A terapia me salvou

Acho que o verdadeiro título é na verdade: a terapia me deu ferramentas para que eu pudesse me salvar.

Eu tive dúvidas se eu deveria ou não escrever este post. E duas coisas pesaram para que este post se materializasse:

  1. Escutei o episódio #135 do Autoconsciente “Bateu uma crise” | e me senti acolhido. E isso me deu um empurrão para falar sobre “isso”.
  2. Eu me considero uma pessoa que reflete bastante, me sinto grato pela minha vida, me sinto bem sucedido, me sinto abençoado. Ainda sim, tenho bastante ansiedade. Tenho escutado com mais frequência pessoas jovens e sofrendo de ansiedade.

No 2º trimestre de 2023 eu tive uma crise de ansiedade.

Nos 10 dias que antecederam aquela “noite”, eu que sempre tive muita facilidade para dormir, vinha tendo episódios de insônia ou noites que eu acordava entre 3-4 da manhã e só conseguia voltar a pegar no sono 1-2h depois.

Apesar disso, não considerei isso como alerta. Segui a vida normal, tentando dar conta de tudo que eu tenho para dar conta.

Até que em uma quarta-feira, terminei o último compromisso do dia e tive uma sensação de aperto no peito. Foi estranho. Apesar de estar preocupado com várias coisas, aquela sensação era mais intensa do que sensações normais. Era como se aquele nó na garganta me desse vontade de chorar, de transbordar.

Bom, lavei o rosto e tentei não pensar naquele bolo de sentimentos. Afinal, era final da tarde e quem tem criança com menos de 1 ano sabe que a rotina da bebe é a prioridade.

Brinquei um pouquinho com a minha filha, dei banho nela e fui faze-la dormir como de costume. E no meu caso, fazer a bebe dormir é quase uma meditação:

Uma foto de um conjunto de 6 quadros. Cada um com a cabeça de um cachorro ligado ao autor. São peças autoriais produzidas por Juliana Dabague.

Pego ela no colo, a gente dá tchau para várias coisas do quarto dela: tchau para o quadrinho de cachorro, tchau para o simba, fazemos a oração do santo anjo, ela aponta pra caminha dela, pede a chupeta, eu ligo o ruído branco, diminuo a luz, deito ela no berço.. e aí ela começa aquela canção de bebe que tá tentando dormir e que não quer se entregar tão fácil.

Quarto escuro, silêncio contínuo anunciando que ela tinha dormido.. e enquanto isso meus pensamentos a mil por hora parecendo aquele globo da morte com motos que existiam nos circos (se você não conhece, você é jovem demais haha).

Eram mais ou menos 8 da noite e eu já coloquei pijama e fui deitar. Me sentia exausto. E.. dormi.

1 hora da manhã acordei. Coração acelerado (sentia o coração bater no pescoço) e os pensamentos se digladiando dentro da cabeça. Fiquei um tempo ali tentando controlar a respiração e acalmar a cabeça.. mas nada resolvia. Eu estava começando a transpirar.. aquele momento que antecede o desespero.

E aí.. eu levantei.

Entendi que deitado ali, eu não estava em controle do que eu estava pensando ou sentindo. E que aquela luta ali eu não ia ganhar.

Decidi fazer outras coisas: assisti os gols da semana, li uns trechos de livro, joguei videogame.. enfim, fiz coisas que tiraram a minha atenção daquela sensação.

Por volta das 3 e pouco da manhã, eu já estava mais tranquilo e decidi tentar voltar a dormir. E apesar de não estar mais sentindo aquele turbilhão sentimentos e sensações, não consegui pegar no sono.

Já eram quase 4h da manhã, decidi levantar de vez. Agendei uma aula de spinning logo pro primeiro horário, tomei café da manhã e fui pra lá suar e gastar o cortisol que provavelmente ainda estava no sangue.

Por sorte ou mero acaso, quinta-feira cedo eu já tinha previamente agendado sessão de terapia.

Contei do acontecido e já peguei papel e caneta e fui mapeando os o quê’s e porquês de tudo aquilo. Este exercicio é um dos mais valiosos para mim.

Depois de 3 anos fazendo este exercício de destilar sentimentos complexos na terapia, foi como se a minha “consciência” tivesse me chutado para fora da cama. E acho que aquilo foi determinante para não ter sido “dominado” e ter tido um piripaque.

E claro.. ter passado por este susto me deu uma nova chance. Buscar enxergar a vida de outra forma e atuar na(s) causa(s) que me fizeram viver este turbilhão.

Publicado por Leo Dabague

Maker, economista, curioso, aprendiz e incomodado. Hoje sou diretor em uma Startup de tecnologia para varejo. Ajudei a construir / sustentar a escalada de 40 para mais de 850+ pessoas em menos de 5 anos.

4 comentários em “A terapia me salvou

  1. Ô meu amigo, vc sabe que não está sozinho, né??
    Fico feliz que esteja buscando ajuda para se ajudar, realmente está muito comum ver pessoas no geral assim, e jovens mesmo de 20 anos… e eu sinto muito que as coisas estejam assim. Uma das partes mais difíceis, pra mim, enquanto profissional é ajudar a manter a chama acesa do “vai passar! Confia, faz a tua parte que passa”.
    E é um exercício diário de auto consciência, mas que é possível!

    Cuidar de vc para vc poder cuidar de quem vc ama 💜

    Quando eu passo por alguma experiência assim, eu penso “ok, precisei desse aviso desta forma neste momento e tá tudo bem! Mas não quero precisar mais”. E assim seguimos, um dia após o outro 🙂

    Um grande beijo!

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  2. Fala Leo,
    Muito legal o seu testemunho. Lendo os sintomas acredito que tive algo parecido no ano passado, que estava fortemente relacionado ao meu trabalho. Stress, fadiga e sentimento de estar em uma armadilha que nao tinha por onde escapar. Ainda bem que consigui outro emprego, e minha qualidade de vida aumentou muito.
    Sabe o que é o mais engraçado? As vezes me pego pensando no trabalho anterior, até sentindo um pouco de saudade da “adrenalina” do dia-a-dia, mas esse sentimento passa rapidinho quando volto a lembrar dos efeitos.
    Te admiro muito como pessoal e profissional! Só como cartoleiro que vc nao tem pontos comigo :-).
    Forte abraco

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    1. Obrigado pelo comentário Camillo. E sabe o que eu tenho percebido? É mais sobre a gente do que sobre o ambiente.

      Ou a gente aprende a lidar com o ambiente de um jeito que não te afete negativamente ou a gente muda de lugar.

      Haha não lembro do cartola, mas fica tranquilo.. agora o ChatGPT me ajuda a escalar haha

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